segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cabelos Brancos

Cobrem-me as fontes já cabelos brancos,
Não vou a festas. E não vou, não vou.
Vou para a aldeia, com os meus tamancos,
Cuidar das hortas. E não vou, não vou.

Cabelos brancos, vá, sejamos francos,
Minha inocência quando os encontrou
Era um mistério vê-los: Tive espantos
Quando os achei, menina, em meu avô.

Nem caiu neve, nem vieram gelos:
Com a estranheza ingénua da mudança,
Castanhos remirava os meus cabelos;

E, atento à cor, sem ter outra lembrança,
Ruços cabelos me doía vê-los ...
E fiquei sempre triste de criança.

Afonso Duarte, in "Ossadas"



Prece aos anjos guardiães

Espíritos bem amados, anjos guardiães...
Vós a quem Deus em sua infinita misericórdia, permite velar pelos homens,
sede meus protectores nas provas da minha vida terrestre.
Dai-me a força, a coragem e a resignação.
Inspirai-me tudo o que é bom e detende-me na inclinação do mal.
Que vossa doce influência penetre minha alma.
Fazei com que eu sinta que um amigo devotado está perto de mim.
Que vê meus sofrimentos e partilha minhas alegrias.
E vós meu bom anjo não me abandoneis.
Tenho a necessidade de toda a vossa protecção
para suportar com fé e amor as provas que aprouver a Deus me enviar.

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