terça-feira, 23 de novembro de 2010

Tu que me cuidas


O que vês - "tu que me cuidas" - o que vês?
Quando me olhas, o que pensas?
"Uma velha rabugenta, um pouco doída.
Olhar perdido, que já não está aqui"
Que se baba quando come e que não te responde.
Que quando dizes com voz forte - Faça um esforço, despache-se!
Parece não prestar atenção ao que tu fazes.
E não pára de perder os sapatos e as meias.
E que dócil, ou não, te deixa fazer o que tu queres:
- O banho, as refeições, para ocupar o longo dia cinzento...


É isso que pensas, é isso que vês?
Então abre os olhos, que essa não sou eu.
Vou dizer-te quem sou, muito calma ali sentada,
Caminhando às tuas ordens, comendo quando queres.
Sou a mais nova de 10 irmãos, com um Pai e uma Mãe,
Com irmãos e irmãs que se amam entre si.
Uma jovem de 16 anos, com asas nos pés.
Sonhando em breve encontrar o seu noivo!
Casada aos 20 anos: "O coração transborda de alegria,
Ao recordar os votos que fiz nesse dia".


Agora tenho 25 anos e um filho,
Que precisa de mim para lhe dar um lar.
Uma mulher de 30 anos! O meu filho cresce depressa.


Estamos ligados um ao outro por laços eternos.
Quarenta anos! Em breve ele não estará aqui,
Mas o meu marido está ao meu lado e protege-me.


Cinqüenta anos! Brincam de novo bebês à minha volta:
 De novo com crianças, eu e o meu bem-amado.
 Mas chegam os dias escuros e o meu marido morre
Olho o futuro, tremendo de medo,
Porque os meus filhos estão ocupados a cuidar dos seus,
E penso nos anos e no amor que conheci.


Agora estou velha, a natureza é cruel,
 Diverte-se a fazer passar a velhice por loucura
O corpo desfalece, a graça e a força abandonam-me.
 Existe uma pedra onde habitou um coração...
Mas dentro desta valha carcaça, a jovem permanece
 Com um velho coração que bate sem descanso.


Recordo as alegrias...recordo as dificuldades.
 E sinto de novo a vida...e amo.
Relembro os anos tão breves num ápice passados
E aceito a verdade implacável de que nada é eterno.


Então abre os olhos - "Tu que me cuidas" - e olha...
Não a velha rabugenta!
Olha melhor e verás quem sou!..


Traduzido e adaptado de um texto extraído de um boletim da Caritas - Genebra.
 (Este poema foi encontrado entre os pertences de uma idosa irlandesa, após a sua morte)



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