sábado, 19 de março de 2011

O Pai

 Terra de semente inculta e bravia,
 terra onde não há esteiros ou caminhos,
 sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
 como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

 Escureceu-me a vista o mal de amor
 e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

 Depois... Pergunta a Deus
porque me deram o que me deram
e porque depois conheci
a solidão do céu e da terra.

 Olha, minha juventude
foi um puro botão que ficou por rebentar
e perde a sua doçura de seiva e de sangue.

 O sol que cai e cai
 eternamente cansou-se de a beijar...
 E o outono. Pai, nada podem teus olhos doces.

 Escutarei de noite as tuas palavras: ...
menino, meu menino...
E na noite imensa com as feridas de ambos seguirei.

 Pablo Neruda, in "Crepusculário"

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